Bebe falando: gesto, sons, sílabas e... frases.
- Dr Lilian JF (Linguist)
- Mar 1, 2015
- 3 min read
Em três dias meu filho caçula completa 1 ano e 5 meses. Este menino está um malandrinho, muito esperto. Está bem claro para nós que Matias já nos entende muito bem. Ele é muito observador com o que falamos. Talvez eu também seja mais cuidadosa e observadora no ponto que toca a comunicação e o desenvolvimento linguístico. O fato é que ele me entende e consegue me responder.

Sabe o que não deve fazer e quando faz algo errado—me mostra que sabe pelo olhar e ações (faz e não deixa de te olhar, quando você o vê ele pára ou ameaça a fazer mais). Entende muitos vocabulários, principalmente os relacionados à casa e à família, movimentos e direções que ele explora e tem mostrado interesse em explorar. Faço muita pergunta pra ele, por exemplo: se ele chora agarrando minha perna eu logo pergunto, “quer colo?”, “está com sono?”, “você fez cocô?” etc (espero, claro, uma resposta ou reacao apos cada pergunta). Ele escolhe entre chorar mais, se é não ou se eu estou longe de adivinhar, e pára de chorar ou faz sinal de sim com a cabeça. Se não adivinho, então começo a dizer “fez coco?” e verifico a fralda atrás, “quer leite?” e vou a caminho da mamadeira e mostro, talvez ainda faça um sinal juntando as mãos e colocando na orelha, completando, “quer dormir?”... Até que acerte e adivinhe. Ele já é capaz de me mostrar o que ele quer: vai a cozinha e pega a mamadeira (“quero dormir”), pega um copo (“quero água”), não sai de perto do meu lado (“fiz cocô”), mostra a mão (“me machuquei”), aponta para baixo (“quero descer”), balança a mãozinha para um lado e para o outro (“não”), os dedinhos esfregando no polegar e hoje abriu e fechou a mão (“vem”), aponta para coisas (“lá”), balança a cabeça para cima e para baixo (“sim”). Ele já tenta falar: mama (mamãe), baba/maaa (papai), memeeee (Pedro), ada/aga/aba/mama (água), dada/meda (me dá), maaaaaaaaaaaaaa (mais), shashia/ado (gracias/obrigado), bobó (“vovó”), oiaaaaaa (“holaaa!”), babaaaa(i) (“bye-bye”). As palavras ainda não é o forte dele. Ele está treinando bastante ultimamente os tons e os sons da frase toda. Por exemplo, eu digo: “você quer passear?” e ele as vezes balbucia o som semelhante da pergunta que eu fiz, claramente marcando que é uma pergunta. Ele está praticando a pergunta, a exclamação, as expressões e comunicações que damos apenas através de sons, como o ahhh! É? Ahn? O “Ahn?” de “como?” “o que?” está sendo muito usado, tanto que nos pegamos sempre repetindo pra ele a mesma frase toda vez que ele fala “ahn?”, lá pela 3ª ou 4ª vez que ele diz “ahn” percebemos que ele tá testando o significado deste som. Se ainda não percebeu, logo descobre que significa “repete, por favor”.
Estou percebendo com o Matias que a língua não é apenas a tentativa de pronunciar palavras com significado. Essas palavras podem ser mostradas, gestualizadas, entonadas, balbuciada em uma espécie de frase ou ditas de formas diferentes da palavra como ela é ou dita sempre da mesma forma que outras tantas palavras. As entonações e balbuciamentos de frases indica que passamos por uma fase de adquirir os significados dos sons e de toda uma frase, expressão. Talvez percebamos primeiro que a frase não é uma construção de palavras, mas que pode ser o contrário: aprendemos o som da língua tentando reproduzir frases como uma unidade de significado e a variação de frases com uma mesma palavra nos mostra que há a possibilidade de aquele conjunto de sons serem uma unidade, e então reconhecemos o significado de uma palavra. Será que um bebê pode partir de falar nada para já produzir frases curtas (2 ou 3 palavras), sem necessariamente passar pela pronuncia exata das sílabas, mas pela pronúncia tonal da frase inteira? Quanto as expressões faciais e corporais, os gestos, a linguagem corpora antecipando a linguagem oral e se desenvolvendo simultaneamente, isso é considerado em estudos de aquisição da linguagem? Será que uma criança bilíngue, com pais que não entendem a língua um do outro, tende a desenvolver mais cedo e/ou aplicar por mais tempo a linguagem corporal? Como seria a aquisição tonal de uma criança bilíngue cujo pai fala chinês, por exemplo, em que o tom significa palavras diferentes e a mãe fala, português, em que o tom traduz tipo de frase (interrogativa, afirmativa e exclamativa) e emoções?
Bom, este é o quadro do Matias ao um ano e cinco meses. Seus gritos de frustração, nervoso, vergonha, etc estão melhorando a medida que ele desenvolve sua comunicação, ele está usando mais as gargalhadas para mostrar também o que gosta, não apenas o que não gosta. Assim está Matias no dia 01 março de 2015.
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