Trilingual-Boys Blog
Quem sou
Minha famÃlia é...
O começo de uma famÃlia bilÃngue.
June 15, 2014
Minha famÃlia somos eu, meu marido e pais dos meus dois meninos, Pedro, de 4 anos e Matias de 8 meses. Meu nome é Lilian JF. Sou mãe tempo integral e nos intervalos sou professora, pesquisadora, coordenadora de playgroup e escritora deste blog. Sou PhD em Estudos da Traducao e desde 2001 leciono de português como segunda lÃngua em aulas particulares e na universidade. Victor, meu marido, é também pai tempo integral e, como eu, nos tempos livres trabalha. Ele é Mestre em Engenharia Mecânica, trabalhou por um tempo como pesquisador em robótica, e atualmente é engenheiro em uma empresa de produção de pás para escavadeiras. É também um excelente desenhista, fotógrafo e ciclista.
Conheci Victor em Nova York em 2008. Nossas decisões de como iriamos criar nossos filhos vieram muito antes de que sequer pensáramos em nos casar. Nos conhecemos falando em inglês, mas muito cedo percebemos que este não era o idioma de nenhum de nós. Estimulados pelas semelhanças entre português e espanhol, decidimos que cada um falaria sua própria lÃngua e que cada um se esforçaria em entender. No começo misturavamos os três idiomas, falávamos devagar, não entendÃamos tudo, nos cansávamos no final do dia. Aos poucos o espanhol passou a soar tão familiar pra mim, quanto o português para o Victor. No final das contas, gostávamos, pois eu conseguia sentir em todos os momentos o Victor como era, em seu jeito normal, natural de se expressar e me sentia da mesma forma ao poder falar português. Nunca moramos no México, más passei muito tempo lá em minhas viagens de visita ao Victor. Ele, no entanto, morou no Brasil onde fez seu mestrado.
Desde que Pedro nasceu optamos em seguir falando cada um sua lÃngua com ele. O plano era que Victor não lhe ia falar em nenhuma outra lÃngua que não fosse espanhol, a tv seria somente em inglês (o Cartoon Network pelo menos) e eu só lhe ia falar em portugués. Ele nunca falou nenhuma palavra enquanto morávamos no Brasil.
Viemos à Austrália quando Pedro tinha a idade que Matias tem agora, 8 meses e meio. Continuamos com o sistema de um pai uma lÃngua, no computador colocávamos vÃdeos em português (Palavra cantada e Galinha Pintadinha) e espanhol (músicas infantis). A tv era em inglês. No primeiro ano de vida sua socialização com outras crianças era na creche (em inglês), 5 vezes por semana (a partir de um ano de meio) e playgroup de espanhol, de onde tiramos amizades que fazem parte de nosso ciclo social até hoje.
Foi assim que começamos a construir as identidades linguÃsticas dentro da nossa famÃlia. Digo que lÃngua é identidade, pois construÃmos um modo de nos representar com o outro durante a comunicação. O modo como eu via Victor dentro do contexto americano, falando em inglês, mudou quando o vi no contexto mexicando falando em espanhol. Sinto que estou mais a vontade para me expressar a meu modo quando falo em português do que quando falo espanhol ou inglês. Em português sou uma pessoa instruÃda, sou mulher, sou educada e menos direta. Em inglês sinto que o vocabulário escolhido não é o que melhor me representa, mas o que sei, o que me lembrei, o que fulano ou siclano usou. As palavras não necessariamente se enquadram no contexto em que são pronunciadas (à s vezes muito informal para um projeto acadêmico, ou muito forma para uma conversa com o caixa do supermercado). O Victor, por te aprendido português ao observar-me, fala certas expressões que lhe dão um toque, não proposital, feminino; como a adoçao do "tchau, tchau/ tchauzinho" quando se despede de um colega da universidade; ou chamar minhas amigas de "queridas", para citar alguns exemplos. O mesmo acontece comigo, que tendo a usar em excesso expressões grosseiras (pinche, guey, no mames, chinga, tomale cabron etc), sem considerar se estou falando com uma amigo do Victor, com seus pais, mães do playgroup, ou até mesmo as crianças. Claro que me controlo, mas à s vezes tenho dificuldade de encontrar uma substituição.
Logo no inÃcio do nosso namoro, eu e Victor tivemos um pouco de dificuldade de deixar o inglês completamente, pois não nos entendiamos quando falávamos com o outro o idioma nativo. No inÃcio nos respaldamos em traduções (i.e. eu falava em português, ele não entendia e eu repetia em inglês, e vice-versa, dele comigo). Com o tempo, principalmente quando ele foi morar no Brasil, o inglês foi deixando de existir. Inclusive, um ia incorporando certas expressões da lÃngua do outro na comunicação, pois "expressava melhor" o sentimento que se queria expressar. Atualmente, não é raro que tanto Victor como eu misturemos um pouquinho da lÃngua do outro na nossa lÃngua quando conversamos com cada um. E nesses três anos morando aqui, o inglês também vai se incorporando, principalmente quando conversamos sobre coisas "australianas" (i.e. sobre renovações de contratos, seguros, escola do Pedro, documentos para visto australiano, etc). Se isso faz com que tenhamos uma lÃngua estranha com outros brasileiros (quando eu falo português) ou outros hispano-falantes (quando Victor fala em espanhol)? Não necessariamente. Eu sinto que eu à s vezes demoro um pouco mais pra falar, ou me lembrar de certos vocabulários, expressões e construções sintáticas que estou acostumada a falar do "nosso modo" em casa. Vejo que Victor fala algumas palavras que são portuguesas e espanholas, mas mais usadas em português que em espanhol, ou que à s vezes não se lembra como se diz certas coisas em espanhol, por "ter a expressão em português na cabeça".
Gostaria de saber mais sobre: lÃngua e identidade em relações de casais bilÃngues; a reconstrução de uma linguagem própria na comunicação familiar em famÃlias multilÃngues e quanto que isso afeta (se afeta) a aquisição de cada idioma e comunicação em cada idioma em outros contextos fora da famÃlia. Também seria interessante pesquisar se há investigações sobre o portunhol: estamos próximos de um portunhol em comum a todos que falam assim ou cada pessoa/relação constrói e reconstrói seu próprio portunhol?

Mante tua opinião, tua história, teus conhecimentos e informações.